NALDOVELHO

POESIA É ATO DE CORAGEM

Textos

TEM CERTOS DIAS
NALDOVELHO

Tem certos dias que eu acordo limão galego,
com a cara feia de dar medo
e fico rosnando pras pessoas
que passam desavisadas pelo meu raio de ação.
Mais pareço fio desencapado,
dou choque pra todo o lado
e apesar de ficar calado,
fuzilo com os olhos o atrevido
que insiste em incomodar a minha solidão.

São dias de desterro,
de recolhimento compulsório
e de descrença no meu futuro.
Costumo ficar no escuro,
deitado, compenetrado em meu leito,
sentindo uma coisa estranha,
uma ardência danada no peito,
sem ânimo, apetite ou desejo.
Melhor que houvesse um botão
para desligar de mim a existência,
cair no vazio, no nada,
pois até o pensamento constrange-me o coração.

É aí que, como por encanto,
ato de Deus ou coisa assim,
corre em meu corpo uma energia,
um calor e um desassossego
que faz com que eu entorne o meu pranto,
em lágrimas secas, poemas
a materializar meus problemas,
coisas que eu nem percebia,
que viviam entranhadas e estranhas;
dores, chagas, lamentos,
situações não resolvidas
que ao serem expostas feridas,
deixam de doer-me à alma.

É aí então que tudo se acalma
num sorriso irônico e abusado,
pois não foi desta feita que a vida
deixou de valer a pena,
pois não foi desta feita que a dor
fez deste poeta uma sombra,
um arremedo de existência.

E aí eu me ponho a orar,
agradecido por ser um poeta
e, assim sendo, conseguir dissolver
sentimentos cristalizados
e por ser capaz de, com os meus versos,
construir em mim mesmo, um ser
cada vez mais inteiro
que ao ter a coragem dos loucos,
vive em busca de si mesmo,
vive em busca da compreensão.
NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 11/06/2009
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