O POEMA SE ALIMENTA DE ESCOMBROS
NALDOVELHO Vivo de destruir memórias, sonhos nostálgicos, lembranças, histórias; tudo muito bem demolido, até que fragmentos possam ceder os significados que os versos pretendem. Papel em branco sobre a mesa, o poema se alimenta de escombros. Vivo de desconstruir muralhas, de me perder em caminhos, atalhos, de submergir em águas revoltas, e ser levado por corredeiras até desaguar em algum canto, meio náufrago, meio lama, meio poeta, meio escombro, e renascer de mim outra vez. Gosto de me aprisionar em teias, lutar, sobreviver à aranha, e ainda que entorpecido pela peçonha, romper amarras, atravessar fronteiras, beber o antídoto das mãos de uma Iara, e sob a luz da lua cheira ver dissolvidas as dores cristalizadas em mim. Gosto de ser farpa espetada que arde, erva curtida em veneno de serpente, chuva que molha a vidraça por dentro, vento que move o moinho ao contrário, guardião da palavra, fiel depositário, cantiga, toada, lamento, procura, coisa maldita, inquietude, loucura, candeeiro aceso no meio da imensidão. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 18/05/2009
Alterado em 18/05/2009 Copyright © 2009. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |